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O Jogo da vida, Vidas em jogo

Compartilho hoje aqui no blog o depoimento emocionante de meu pai sobre um momento difícil e inesperado. A pergunta: "porque isso está acontecendo?" e a incredulidade "não pode ser verdade" nos acompanharam por algumas horas. Hoje, estou emocionada com a capacidade dele de ver tanta coisa positiva acontecendo em meio à dificuldade, de ser grato, de perceber as coisas importantes da vida. Me sinto também imensamente grata por você, pai, por nos dar mais essa lição, por ser capaz de compartilhar essa experiência com tanta sensibilidade, e por estar aqui.

"Neste último sábado, 8 de outubro, tive um dos maiores desafios de minha vida: sobreviver a um infarto. Logo após o almoço, quando estava no quarto, senti uma forte dor no peito, que a partir daquele momento seria constante e crescente. Intuitiva, minha esposa entrou no quarto para perguntar se estava tudo bem. Disse que estava com dores no peito, mas achava que era o reflexo de uma conhecida azia. Prontamente foi buscar os remédios. Quando voltou, e com a dor crescendo, fui claro e afirmei que a dor era no peito. Imediatamente, naquele momento, ela tomou a decisão: “vamos para o hospital”. Tentei protelar dizendo para esperar um pouquinho para ver se a dor ia passar, mas meu argumento não foi aceito.

Convencido, e com a dor crescendo, logo me arrumei e saí em direção ao carro sem mesmo esperá-la. Meu foco era com a dor que me apertava. Exímia motorista ela foi. Enquanto eu me torcia de dores, ela serpenteava a rua Blumenau, abrindo caminho para chegar o mais rápido possível ao hospital. O meu “cuidado amor, vai com calma”, soava como um “acelera”, tal era a intensidade da dor nesse momento.

Ao chegar ao hospital dona Helena, fui logo abrindo a porta do carro, saí na frente em direção ao pronto Socorro. Na recepção, fui direto à atendente informando minha dor no peito. Percebi, nesse momento, que alguma prioridade me foi dada, dado a criticidade dos fatos que relatei. A dor apertou de forma aguda. A Lene ficou terminando os dados da recepção, enquanto eu, já sem controle, chorava devido à dor aguda no peito. A dor que era forte e ao mesmo tempo queimava e apertava meu peito, gerava um sentimento que ainda não consigo relatar direito, é algo parecido com “porque está acontecendo isso comigo?”. Chorar foi inevitável.

Com o diagnóstico relatado na recepção, rapidamente, tomou-se decisão de passar direto ao atendimento interno, sem passar pela triagem. De imediato, técnicos de enfermagem e médico, prepararam o eletrocardiograma e logo foi dado o diagnóstico: Infarto. Quando o Doutor Nelson me informou que seria efetuada uma angioplastia devido à seriedade do diagnóstico, não acreditei, afinal, não me encaixava (minha opinião) no grupo de risco.

A partir desse momento, e já medicado para amenizar as dores, lembro que fiquei mais perceptivo ao que estava acontecendo ao redor. A Lene, em desespero, já buscava apoio na família, comunicando os fatos. Médico e enfermeiros se movimentam no sentido de urgenciar a transferência para a sala de cirurgia. Consigo fazer muito bem a leitura desse momento, e entender o risco de vida eminente. Três artérias estariam entupidas, uma delas, 99%. O tempo era fator decisivo. Uns 30 minutos haviam passado desde o momento que havíamos saído de casa.

Dois enfermeiros rapidamente, enfim, começaram a me transferir para a sala de cirurgia enquanto a Lene me acompanhava aflita. Um rápido “tchau amor” podemos dar, e logo eu estava observando enfermeiro e cirurgião se prepararem com luvas, vestimentas e aparelhos. Uma mangueirinha de oxigênio foi colocada em meu nariz, enquanto alguém brincava “logo vai se sentir bem alegrinho” – alusão aos sintomas da anestesia, acho. Acordei durante a cirurgia e pude olhar na tela as artérias sendo desentupidas enquanto se movimentavam no ritmo da batida do coração. Os médicos já haviam feito a análise e o planejamento da melhor estratégia a fazer. Das três artérias com problemas, apenas uma seria desentupida. As demais, seriam tratadas depois.

Ao sair da cirurgia, no corredor para UTI, um rápido beijo da Lene e acenos de amigos que aguardavam na sala de espera.

Na UTI, eu estava no centro das 7 camas disponíveis. Olhando para frente, via uma enorme mesa onde os profissionais ficavam para monitorar os pacientes. Logo percebi que um técnico enfermeiro entre vários, era quem realizava os devidos procedimentos comigo. Uma chefe das enfermeiras era responsável em fazer todas as informações para sua equipe. Aos poucos fui identificando que havia um medico sempre de plantão e que vários passavam por ali em atenção aos seus pacientes. Um deste, que estava sentado em sua cadeira, na mesa em frente, olhava atentamente aos pacientes. Em seguida, levantou, caminhou em frente às camas, de um lado para outro. Olhos fixos, como se pensasse em qual ação poderia tomar em cada caso.

Na passagem de turno, cada parceiro passava em frente às camas relatando a situação de cada paciente. Primeiro vinham os enfermeiros: “Este é o Sr. Júlio, ele passa bem, já foi retirado o cateter e feito o curativo…”. Depois passavam os chefes de enfermeiros e, em seguida, os médicos. Interessante era observar o quanto prezavam pelos procedimentos e eram educados. O uso de cadeira de rodas era obrigatório e desde a entrada até a saída foi observado. Cada procedimento era informado: Sua temperatura é de 35,4 graus, pressão está em 12 por 7.

Uma movimentação acontece e começa uma reunião na mesa em frente. Era a chefe das enfermeiras dando um feedback para sua equipe de que ontem, apesar de muitos procedimentos tivessem que ser realizados, a equipe se mostrou eficiente para resolver todos.

Em seguida, Dr. Nelson que me atendeu na entrada, veio me dar detalhes do que aconteceu e dizer que me acompanhou na cirurgia ajudando na decisão do que fazer e como proceder.

Após 24 horas, e com os sinais vitais dentro do normal, chegou a hora de ir para o quarto. Técnico de enfermagem e chefe de enfermagem, junto com a Lene me deslocam da UTI para o quarto do oitavo andar. Lá, uma nova passagem de informação é feita.

Novos profissionais se apresentam e cumprem com rigor suas tarefas e procedimentos. As mulheres da cozinha, ao entrar vão logo perguntando meu nome e minha data de nascimento. Lá pela terceira vez já me antecipo. As mulheres que fazem a limpeza sempre tem o cuidado de perguntar se já tomei banho para que possam deixar tudo em ordem.

Em outra esfera percebo os movimentos dos amigos mais próximos me visitando. Como é importante nessa hora. Mas não são apenas as visitas. As informações de preocupação de pessoas que não podem estar lá ou que fazem a leitura que talvez não seja o momento também conta. A constatação de que pessoas estão rezando por mim também ajuda na certeza de que a vontade de Deus será feita.

Por fim chega a hora de ir para casa para o próximo estágio. A recuperação da cirurgia e a busca para iniciar os tratamentos faltantes.

O problema físico que passei foi crítico, invasivo e de alto risco. Mas a experiência que tive, olhando por outro ângulo, foi gratificante. O amor da família, dos amigos. O profissionalismo das pessoas, a eficiência dos procedimentos.

Por isso tudo sou grato a Deus que me deu mais uma chance de viver e a todas as pessoas que estiveram junto comigo nesse desafio."

Julio Roberto Luiz

Paciente por 3 dias.

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